A História da TV no Brasil – Parte 02

Memória da Propaganda

A Propaganda – Depoimento de Roberto Duailibi (Diretor da DPZ).

“ A propaganda na TV começou com slides, ou melhor ,com cartões pregados na parede do estúdio. Na época o profissional mais importante era o letrista, o cara que sabia fazer cartões bem desenhados. Depois é que vieram os slides, e, em seguida, as garotas – propaganda, que já eram um estágio avançado para a televisão ( para a época).

Mas fazer televisão ao vivo tinha seus perigos. Por isso, anunciantes mais refinados começaram a encomendar filmes às emissoras de televisão que, no começo, usavam suas equipes de externa para produzir. Em seguida vieram as produtoras, e, entre as primeiras, a Linxfilm, que havia sido montada para produzir filmes políticos para o governador Adhemar de Barros projetar em cinemas principalmente do interior. As produtoras começaram então a se desenvolver. Surgiram outras, e iniciou-se a formação de atores, atrizes, cenaristas, iluminadores, especialistas em guarda – roupa, diretores, fotógrafos, montadores, laboratoristas, etc.
Havia poucos comerciais criativos, principalmente quando a propaganda era ao vivo. Mas já havia alguns motes talentosos e memoráveis, como aquele “ Não é mesmo uma tentação?”e, é claro , as garotas-propaganda já eram ícones de uma nova profissão e um novo meio que surgiam juntos.

A maioria dos comerciais era ainda criada por house -agencies, e a qualidade era lamentável. Havia muito desenho animado. As agências esforçavam-se por fazer algo melhor, já parecidos com os grandes filmes de longa-metragem que todos admiravam; mas o conceito que se tinha da propaganda era o da mensagem direta, crua , gritada, sem qualquer sutileza. Quem começou a modificar isso foi Julio Cozi, que importou os primeiros comerciais americanos, para mostrar como deviam ser feitos. Com histórias, com boa iluminação, boa interpretação, boa fotografia.

Nos primeiros desenhos animados, foram montadas as trucas improvisadas, mas já aparecia a criatividade dos nossos profissionais. Embora comerciais fossem, em si, ruins, os desenhos já possuíam qualidade, tanto que vários dos bons desenhistas mudaram para os Estados Unidos, onde a remuneração era mais digna. Ainda há vários daqueles pioneiros vivendo lá, e muito bem.

Havia poucos anúncios estrangeiros adaptáveis aos produtos que as empresas estrangeiras produziam no Brasil. E a classe cinematográfica, que sempre foi muito politizada, rapidamente obteve uma legislação que proibia a veiculação de comerciais estrangeiros. Olhando pela perspectiva histórica, isso foi muito bom, embora contrarie as noções de neoliberdade atuais. Foi essa legislação que permitiu que o Brasil tivesse um setor de produção de comerciais forte e ativo, com profissionais em grande quantidade. Se não houvesse tal legislação , veríamos o que aconteceu em quase todos os países da América Latina, nos quais os intervalos comerciais nada têm a ver com o pais, e as empresas estrangeiras concorrem em situação vantajosa com as empresas nacionais, que têm de pagar pela produção de seu material. Se hoje temos marcas nacionais competindo em pé de igualdade com marcas estrangeiras, é graças a essa legislação.

Os primeiros vídeos eram considerados material de segunda classe e essa situação não mudou ainda. Quando se quer um comercial com boa luz, filma-se em celuloide e depois se transcreve para vídeo. ( sei que vai haver gente querendo me matar por essa afirmação).

Quando vejo um anuncio como se tivesse sido feito como há 45 anos, morro de vergonha, e sei que o publico também sente vergonha. Mas a propaganda brasileira é boa porque a televisão brasileira é boa. E o Boni, o Walter Clark, o Nilton Travesso tem muito a ver com isso”.

Esta palestra feita por Roberto Duailibi – Diretor da DPZ, em Gramado, durante o Festival Mundial de Publicidade.